terça-feira, 1 de julho de 2008

FERNANDO PESSOA, E-MAIL, CELULAR, BATE-PAPO, CARTAS, VIVER NÃO É “PRECISO,” CLEÓPATRA E JULIO - carta (resposta) de jb vidal para tonicato miranda

FERNANDO PESSOA, E-MAIL, CELULAR, BATE-PAPO, CARTAS, VIVER NÃO É “PRECISO,” CLEÓPATRA E JULIO - carta (resposta) de jb vidal para tonicato miranda

caro tonicato,

como você também cheguei a pensar que as cartas haviam sido superadas, uma vez pelo telefone, depois recados pelo fax, mais tarde pelo e-mail, celular e ultimamente pelos sites de bate-papo em tempo real e tudo isso “sem selo.” mas não, o que e como você pode se expressar em uma carta creio que nunca o faria através dos meios a que me referi. não, não faria. estou convencido que por algum (muito) tempo a escrita impressa se fará necessária senão pela cultura, pelo hábito, pela questão econômica, porquanto os investimentos necessários para que se acesse o mundo virtual ainda são muito altos para quem quer um PC em casa, considerando-se os níveis salariais do mercado de trabalho. eu observo pelo site, os dias de maior acesso são de segunda a sexta, sábado, domingo e feriados a quantidade cai, por quê? os usuários não tem computador em casa. acessam do local de trabalho. creio que ficará assim, até quando não sei; os correios continuarão a entregar além das drogas e das encomendas, as cartas, milhares de cartas diariamente.

devo desculpar-me com você com respeito ao convite de comermos algumas ostras, não sabia que não te apeteciam, que não fazem parte da tua cultura gastronômica; mas, acho que com a continuidade de se preencher o sábado, no final da manhã, acabarás por identificar algo “familiar” naquelas preciosidades que, por essa razão, terminarão por te conquistar o paladar. o BOSCATO/merlot estava excelente. degustar ostras com vinho na praça do “homem nu”, realmente, pensando bem, não é para os fracos de caráter.

devo te dizer que aquela referência, na primeira carta, à igreja no final da rua, que a vistes desde onde te encontravas, fez-me lembrar das “buscas” em que o homem vive o tempo inteiro de sua vida. engraçado, não é? eu costumo dizer que existindo Deus ou não somos seus “prisioneiros.” coisas do livre pensar.

não posso me alongar, já que o tempo corre e eu só caminho, em razão de compromissos assumidos e intransferíveis, mesmo assim queria fazer um rápido comentário sobre a célebre frase “navegar é preciso, viver não é preciso”, a que te referistes, na última carta, após um comentário sobre o poema “Todas as Cartas de Amor são Ridículas” do nosso grande Fernando Pessoa. da maneira como falastes sobre aquela frase, é óbvio que a lestes pelo menos no poema de Pessoa; ele realmente utilizou tal frase e, por isso, uma grande maioria de pessoas que o leram acreditam ser dele a autoria quando não é. o autor da frase chama-se Julio César, o Romano, que ao dirigir-se Mar Mediterrâneo à dentro para conquistar o Egito viu-se diante de terrível tempestade que obrigava a todos seus generais e soldados pedirem para retornar, no limite do amotinamento, quando então, ele mal seguro a um mastro grita: “navegare nececere, vivere non nececere!” recuperando a confiança de seus homens a ponto de invadir e conquistar a pátria de Cleópatra. há ou houve, não sei, uma discussão, moderna, de que Julio César teria afirmado no sentido de “precisão” e não de “necessidade.” mas se ocorre ou ocorreu tal discussão, para mim, são filigranas inúteis ou coisa de pensador desocupado. o grande Pessoa não é responsável por isso.

era só.

JB VIDAL

23/06/08

Sem comentários: